Dois Monges e a Jovem

Dois Monges e a Jovem

Era uma vez dois monges, um monge sénio e um aprendiz de monge. Encontravam se a viajar juntos, numa peregrinação. No decorrer do seu percurso, depararam se com um grande e largo rio, cuja corrente corria cheia de força e ferocidade. Na margem do rio encontrava se também uma jovem, em sinais de stress por não conseguir atravessar.

A jovem aproximou se do monge com mais idade e pediu por auxílio para atravessar o rio. O monge, sem qualquer hesitação, colocou a jovem aos seus ombros e transportou a para a outra margem, permitindo que continuasse a sua viagem.

Os dois monges retomaram a sua viagem, caminhando em silêncio por várias horas. O jovem monge, não sendo capaz de se conter durante mais tempo, decidiu falar – “Irmão mais velho, nós tomámos votos que nos proibem de tocar em qualquer mulher. No entanto o irmão carregou a jovem para atravessar o rio. Como foi capaz de fazer tal coisa?”

O monge mais velho sorriu e respondeu – “Meu querido irmão, eu pousei-a no chão há horas, no entanto parece me que tu ainda a carregas nos teus pensamentos.”


Gosto bastante desta parábola. Durante anos também carreguei comigo muitos momentos do meu passado, os quais lhes atribui um mau sentimento. Sempre que os revisitava, todas as emoções que inicialmente surgiram e dispararam o meu stress, voltavam a surgir. Era um constante reviver os momentos, e sofrer tudo como da primeira vez.

Nesta parábola temos o ênfase no poder do deixar, do largar.

O monge sénior não quebrou nenhum dos seus votos, aliás, ele demonstrou o voto da compaixão. Fez o que tinha de ser feito pelo bem do próximo. Viveu no momento.

O jovem, por sua vez, agarrou se ao acontecimento e manteve essa tempestade mental durante horas – este é um dos verdadeiros sofrimentos.

Com esta parábola aprendemos que o único passado que temos de carregar é o que tivermos atribuído um significado positivo. Esse deve ser revisitado. Revisitado para sentirmos alegria de termos vivido esse momento, e não para sofrer de saudosismos.

O restante passado, foi um professor duro que ensinou uma lição dura. Agradecer, ser grato pela aprendizagem e seguir a vida. A aprendizagem não se torna mais forte ou importante por a revivermos em contínuo.

Enquanto pensas no assunto, pondera também no estado atual do teu estado de espírito.